quinta, 01 de setembro de 2011
Sociedades garantidoras democratizam crédito para pequenas empresas no PR
Iniciativa deve atender em cinco anos 7,5 mil empreendimentos; volume de crédito a ser concedido, por meio de garantias, pode chegar a R$ 120 milhões
De cada dez micro e pequenas empresas interessadas em obter financiamentos junto a instituições financeiras, três têm seus pedidos negados por falta de garantias. A estimativa, do Sebrae, mostra uma realidade bastante comum no Brasil e no Paraná: boa parte dos empresários de pequenos negócios não dispõe de bens suficientes para oferecer em garantia, o que inibe a concessão de empréstimos, ameaçados pela inadimplência.
Para reverter o quadro e democratizar o acesso ao crédito, empresários e lideranças empresariais do Estado, sob a articulação do Sebrae/PR, e com o apoio do Sebrae Nacional, iniciaram em 2008 uma discussão que culminou com a criação recente de três Sociedades de Garantia de Crédito (SGC). Muito comuns na Europa, as SGC prestam, em nome das pequenas empresas, garantias complementares exigidas pelos agentes financeiros.
Atualmente, existem quatro SGC em funcionamento no Brasil, três no Paraná, pelo modelo do Sebrae Nacional, e a Garantiserra, pioneira no Rio Grande do Sul. Operam no Estado a Sociedade de Garantia de Crédito do Oeste do Paraná - Garantioeste, com sede em Toledo; a Sociedade de Garantia de Crédito do Sudoeste do Paraná - Garantisudoeste, em Francisco Beltrão; e a Sociedade de Garantia de Crédito do Noroeste do Paraná - Noroeste Garantias, com sede em Maringá.
O Sebrae/PR projeta que, em cinco anos, as SGC paranaenses - incluindo outras duas sob análise, uma em Guarapuava, na região centro-sul, e outra em Londrina, no norte do Estado - devam atender em média 7,5 mil micro e pequenas empresas. A estimativa é que o volume de crédito a ser concedido, por meio das garantias, deva chegar a R$ 120 milhões.
"As SGC do Paraná contam com fundos de aval estimados em R$ 4 milhões cada, formados por recursos do Sistema Sebrae e também de instituições como o Sicoob (Sistema de Cooperativa de Crédito)", explica o coordenador estadual de Acesso a Serviços Financeiros do Sebrae/PR, Flavio Locatelli Junior. Segundo ele, as SGC são peças-chave na prestação de avais técnicos e comerciais e de assessoria financeira para a obtenção de crédito, contribuindo para que as instituições financeiras ampliem o acesso a informações sobre as condições das micro e pequenas empresas.
Proposta pioneira
Augusto José Sperotto, presidente da Garantioeste, diz que as lideranças empresariais que assumiram o processo das SGC no Paraná, com o auxílio do Sebrae, podem ser comparadas a "desbravadores". "O começo é difícil, mas a cada dia que passa os resultados passam a ser medidos. As SGC repercutem na matriz de custo das empresas e evitam o dreno financeiro, sobrando, assim, mais recursos para a ampliação dos negócios."
Sperotto, que participou no último dia 22 de agosto, em Foz do Iguaçu, de evento que marcou oficialmente o início de operação das SGC paranaenses, contabiliza os primeiros resultados da garantidora de crédito. O dirigente informa que a Garantioeste já vinha operando em abril e, desde então, fechou mais de 30 operações, que envolvem R$ 554 mil em financiamentos para micro e pequenas empresas do oeste paranaense.
Educação financeira
Para o presidente da Garantisudoeste, Celio Boneti, o crédito é fator de desenvolvimento em qualquer economia no mundo. "Tem crédito bom e crédito ruim. As micro e pequenas empresas têm se utilizado, em muitos casos, do crédito ruim, o que causou uma cultura de distanciamento do segmento e dos agentes financeiros. As SGC são uma excelente oportunidade para promover uma aproximação. É um trabalho de catequização que temos pela frente."
Na avaliação de Boneti, os empresários de micro e pequenas empresas, na maioria dos casos, solicitam crédito sem planejamento. "Precisa haver uma educação financeira. Os empresários devem acessar crédito de qualidade, com gestão financeira e planejamento a médio prazo. As SGC são uma alternativa inteligente", entende o presidente da Garantisudoeste, que, desde 5 de agosto, já autorizou cerca de 15 operações de garantia.
Diferencial regional
Valter Orsi, presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Londrina (Sindimetal), conselheiro do Sicoob e ex-presidente da Associação Comercial de Londrina (ACIL), apoia a criação de uma SGC no norte do Paraná. Entusiasta do movimento que busca a instalação de uma garantidora de crédito com sede em Londrina, Orsi também participou do evento em Foz.
"As SGC vêm como um guarda-chuva de proteção, que estimula o crédito com taxas diferenciadas." Na Europa, de acordo com Orsi, as SGC estão no dia a dia das micro e pequenas empresas. "Vamos trabalhar para a concretização da proposta no norte do Paraná. Não tenho dúvidas que as regiões que possuírem SGC terão diferenciais na economia, a partir de micro e pequenas empresas mais fortes e mais competitivas", aposta o presidente do Sindimetal.
Potencial econômico
Ilson Rezende, presidente da Noroeste Garantias, aposta na iniciativa e informa que a garantidora de crédito da região, em funcionamento desde o início de agosto, ainda não realizou operações porque está em fase de prospecção de micro e pequenas empresas que tenham projeto de expansão. "O principal objetivo das SGC é promover o desenvolvimento econômico e, para isso, vamos priorizar empresas que visam o crescimento", assinala.
Durante evento em Foz, a Prefeitura de Maringá firmou protocolo, manifestando a intenção de aportar R$ 1 milhão no fundo garantidor da Noroeste Garantias. Na avaliação de Rezende, a decisão é uma atitude de vanguarda porque o poder público entende que a SGC é uma importante ferramenta para a geração de novos empregos e desenvolvimento.
Jean Flávio Zanchetti, presidente da Coordenadoria das Associações Comerciais da Região Norte e Noroeste e da Associação Comercial de Nova Esperança, também aposta no sucesso da Noroeste Garantias. "As SGC vão tirar as micro e pequenas empresas da agiotagem e dos juros altos, comuns no chamado crédito especial. Os agentes financeiros darão orientação e o Sebrae tem papel fundamental no planejamento empresarial, antes do crédito."
Crédito produtivo
O empresário Valdir Grigolo avalia como pertinente a instalação de uma SGC em Guarapuava. "Desde o início, acompanho as discussões sobre as SGC e sempre subentendi sua importância. É evidente que é preciso trabalhar fatores de esclarecimento junto aos empresários sobre as garantidoras, o que vem sendo feito, pois a população não gosta daquilo que não conhece", observa.
Para Grigolo, as empresas da região demandam por crédito, mas é preciso que o crédito seja produtivo. "Cerca de 98% das empresas da região são micro e pequenas e esse apoio na concessão de crédito tem que ser dado. Com a privatização de bancos públicos, mudou a concessão de crédito, mesmo, ao meu ver, o governo oferecendo linhas de crédito, mas mais voltadas para o consumo", avalia o empresário, que há 21 anos atua no setor de confecção.
A sede da Garantioeste é em Toledo, no Edifício da Associação Comercial e Empresarial de Toledo (ACIT), que fica no Largo São Vicente de Paulo, 1.333, 6º andar, Sala 61. A Garantisudoeste está instalada em Francisco Beltrão, na Rua Florianópolis, 478. E a Noroeste Garantias está localizada nas dependências da Associação Comercial e Empresarial de Maringá (ACIM), na Rua Basílio Sautchuk, 388, no telefone (44) 3226-3344.